CRÔNICAS




O POSTE

Os moradores daquele arrabalde, perto do rio, ficaram muito felizes ao saberem que a rua onde moravam iria ser iluminada, principalmente por causa daquele terreno baldio onde os meninos costumavam jogar pelada nos fins de semana.
Os postes foram fincados um a um e receberam plaquetas de identificação. Alguns dias depois a fiação e as lâmpadas foram colocadas, entretanto, para dissabor dos moradores, aquele poste que ficava bem ao lado da grade da ponte sobre o riacho não recebeu fios e nem lâmpadas. Ficou ali, plantado, sem lâmpadas, sem fazer nada. À noite não iluminava a rua à distância e nem ajudava a clarear o campinho de futebol. Aquele trecho da rua continuava escuro e ninguém informava por quê?
No chão sem calçamento e sem passeio em frente ao terreno das brincadeiras, aquele poste só fazia era, atrapalhar. Em dias de mau tempo então, chegava a ser perigoso aquele local porque, a enxurrada provocada pelas chuvas descia pelo pé do poste abaixo, formando uma pequena e perigosa erosão, capaz de carregar qualquer pessoa para a correnteza do rio, que se avolumava a cada temporal.  
Nada justificava a presença daquele poste em lugar tão estranho, sem fio e sem luz era nada para aquela rua tão maltratada pelas cheias do rio que, ao transbordar, alagava tudo. Furiosos, todos acreditavam que por sua inutilidade, o poste poderia ser removido, extirpado, jogado fora... a não ser ... por uma observação bastante interessante. É que em dias de sol escaldante e na hora do jogo de futebol, a pequena torcida, formada pelos garotos da redondeza sentava-se no chão e, curiosamente, um atrás do outro com perfeita visibilidade para o jogo que corria solto e disputado, e, assim ficavam, simplesmente porque aproveitavam a generosa sombra do poste.
* * *
Reflexão: Em nosso dia a dia quando pensarmos que alguém é um inútil, é melhor observá-lo cuidadosamente porque, certamente, encontraremos nesse alguém um raio de sol ou uma sombra amiga.

Tereízinha Zízi da Silva

Vila Velha/ES, agosto/2002




                                                   A GAVETA EMPERRADA

Num escritório de intenso movimento havia em uma das mesas da gerência uma gaveta emperrada. Era sempre um Deus nos acuda quando alguém precisava de alguma coisa de dentro daquela gaveta. Era melhor desistir porque se fazia muita força para abri-la e quando isso acontecia, apenas um vão estreito ficava à mostra não permitindo, com isso, que o interessando tirasse de dentro qualquer material que precisasse.
Na tal gaveta havia, praticamente, um pouco de cada material de uso diário e, pior, muitas vezes valores usados no dinamismo do escritório. As atividades não deixavam de ser realizadas porque, cada funcionária, sentindo a necessidade de maior agilidade em suas tarefas, supria-se de outras maneiras sem precisar perder tempo abrindo aquela gaveta.
No primeiro dia de trabalho de uma nova funcionária, os colegas a preveniram da dificuldade de abrir a gaveta, mas a moça, por ordem do chefe, iria precisar de algum conteúdo que lá estava guardado. Resoluta, aproximou-se da mesa e puxou a gaveta com tanta força que acabou ficando com ela pendurada na mão, expondo toda aquela intimidade cheia de valores e utilitários que todos gostariam e precisavam aproveitar.
* * *
Reflexão: Se em algum momento de sua vida você se sentir como uma gaveta emperrada, não espere que alguém o desperte, mas, tenha você mesmo a força para mostrar aos outros todos os seus valores morais.

Terezinha Zizi da Silva
Vila Velha, agosto de 2002..