segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crônicas

CALÇADAS

Em Vila Velha/ES, no início do governo municipal, foi afixado nos ônibus urbanos um cartaz que descrevia o CÓDIGO DE POSTURA DE CALÇADAS.

Entendemos por calçada o espaço destinado aos pedestres, espaço este não respeitado pelos proprietários dos imóveis que não se preocupam em acabar com os inúmeros buracos nas suas calçadas.

Quando vi e li o Código de Postura de Calçada, fiquei feliz. Imaginei que a Prefeitura passaria a exigir que todas as calçadas fossem refeitas dentro das normas ali estipulas pelo Departamento de Obras da Prefeitura. Exultei com a notícia imaginando uma cidade sem buracos e as calçadas passariam a ser realmente PASSEIOS, aonde crianças e idosos pudessem desfrutar daquele espaço, não somente para caminhar, mas também para passear com os netinhos sem medo de cair e se ralar todo.

Infelizmente o cartaz não permaneceu nos ônibus. Muitas pessoas o ignoraram e os avisos foram esquecidos, rasgados, e amassados dentro da lixeira do coletivo. Vi algumas calçadas novas dentro das normas, mas, ignoro se a Prefeitura passou a cobrar dos proprietários de imóveis a Postura correta de sua calçada.

Pois bem, há poucos dias tivemos a notícia de que os idosos estão caindo mais. Essas quedas são atribuídas à pouca visão, à hipertensão, às diabetes, à falta de cuidados dos parentes, entretanto, ninguém se referiu ÀS CALÇADAS.

Citam, tropeçou num buraco e caiu.

E esse buraco estava onde? Certamente numa calçada.

Tempos depois em bairros mais afastados do Centro do Município, moradores começaram a embelezar a rua onde moram com calçadas bem construídas, revestidas de cerâmica antiderrapante e acabamento de granito assentado em cima do meio fio o que eleva a altura da calçada em cinco ou seis centímetros.

Particularmente o idoso, acostumado a elevar o pé para subir na calçada encontra uma outra medida daquela com a qual estava acostumado durante muitos e muitos anos de sua vida.

E pode crer, o idoso tropeça e cai se machuca todo e nada acontece com o proprietário infrator do Código de Postura de Calçadas.

Não há fiscalização e, encontramos degraus na divisa de uma propriedade e outra, subidas abusivas para entrada de carro, vasos de vários tamanhos enfeitando a frente das casas, construção indevida na calçada, lixeiras em lugar impróprio, tudo isso e muito mais impedindo a acessibilidade de todos, particularmente dos idosos, cadeirantes e deficientes visuais.

Sei que a Prefeitura tem muito a fazer em Vila Velha, entretanto, vai aqui uma sugestão:

  1. Fazer as calçadas mediante pagamento parcelado dos proprietários.
  2. Com aviso prévio e prazo determinado multar os proprietários de terrenos baldios, infestados de lixo, sem muro e sem calçada.
  3. Mostrar-se solidária com os mais pobres oferecendo-lhes material sendo a mão de obra por conta própria, com prazo para término, dentro das normas municipais.
  4. Reformulação das calçadas mais altas, construídas com piso sobre piso, infringindo o Código de Postura.

Com pequenas particularidades nos bairros de Vila Velha teremos uma cidade digna para se morar e os idosos, cadeirantes e deficientes visuais, agradecem.

*

Moradora de Guaranhuns, 77 anos de idade, com o rosto ralado por tropeçar numa calçada acima da altura prevista pelas normas Técnicas, e acabamento com piso antiderrapante.

*

Contos

PREVIDÊNCIA FUNERÁRIA

Por ocasião do enterro de “seu” Inocêncio, os poucos amigos que lá estiveram fizeram mesuras a respeito do bom velhinho.

No discurso de despedida alguém, em rápidas palavras, descreveu sua aparência física frágil e sua nobre silhueta moral.

O caixão foi fechado e, depois do funeral, todos cabisbaixo voltaram para suas casas.

Dona Zoraide, a dona da pensão foi a que mais sentiu, se não a única que verdadeiramente sentiu a falta do “seu” Inocêncio ou do aluguel que ele pagava-lhe pelo quartinho.

Ele era bom, generoso, nunca atrasou um só mês de aluguel. Pagava religiosamente. Quase não comia em casa, saia muito.

Pouquíssima vez se recordava que tivera família e filhos. Seu olhar se orvalhava e ele disfarçava passando no rosto um lenço amarrotado que sacava do bolso do paletó.

A dona da pensão sentidamente suspirava; - Quando vou encontrar outro inquilino como ele. . .

Um mês depois da cerimônia fúnebre do bom homem, eis que estaciona um carro de funerária na porta da pensão. O motorista era um homem de paletó, gravata e pasta na mão à procura do “seu” Inocêncio.

A vizinhança queria saber:

- O que aconteceu?

- Quem morreu?

As perguntas eram todas aquelas que são feitas quando ambulância, bombeiros, polícia e funerária encosta seus carros na frente de alguma casa.

Alguns, os mais curiosos, se achegaram para perto da porta da pensão com o intuito de ouvir o que o homem engravatado estava falando para dona Zoraide.

Depois de cumprimentar, educadamente a senhora, o homem com a pasta perguntou:

- O senhor Inocêncio mora aqui?

- Morava.

- Como?! Ele se mudou? Deixou o novo endereço.

- Não ele não se mudou e onde ele foi morar eu não sei.

- Que aconteceu com ele?

- Morreu.

O homem, surpreso, esbugalhou os olhos na direção de dona Zoraide e virou uma locomotiva.

- Minha senhora eu sou da funerária, isso não pode ter acontecido.

- Como não, muita gente morre de repente!

- Não pode ser. Há pouco mais de um mês “seu” Inocêncio encomendou os serviços funerários como medida preventiva, ou seja, para o futuro, entende. Ele não pode ter morrido. Onde é que ele foi enterrado?

- Foi tudo feito como estava no papel da funerária.

Furioso, o engravatado irrompeu pela pensão á procura do velho e por mais que a dona do estabelecimento explicasse que o bom velhinho estava morto, o agente parecia não entender. Daquela pessoa fina e treinada para promover vendas, o homem foi se transmudando para uma fera em busca da presa.

Filho da mãe, desgraçado, caloteiro, pilantra tudo isso foi pouco diante dos demais impropérios pouco literários.

A dona da pensão boquiaberta pedia respeito a ela e aos mortos.

Nada calava o homem, não adiantava, a fúria do vendedor estava no fato do bom velhinho ter encomendado os serviços em quatro parcelas no crédito e, de repente a conta bancária não existia mais.

- O Banco não vai cobrir a dívida e vai cair tudo nas minhas costas. - gritava o rapaz.

O que o homem não entendia era porque o bom velhinho teve um colapso repentino antes de pagar a conta!

- Eu devia saber, gritava ele, não devia ter vendido os serviços a um velho. Vou ter de cobrir as despesas.

O nó da gravata já estava afrouxado. . . O paletó jogado no espaldar de uma cadeira. . . e , agora, desabotoava o botão do colarinho.

Suava a não poder mais.

Num momento de lucidez, gritou: - Ele tem família?

- Nunca nos deu notícias dela a não ser em alheias lembranças.

- Salafrário.

- Pare de xingar o defunto!

- Que defunto, minha senhora, se fosse um defunto, juro que eu o arrancaria da cova para pagar o que me deve.

- Isso lá é verdade, ele não ficou um defunto, suas cinzas foram espalhadas nas areias da praia. Foi uma cerimônia de cremação muito bonita.

- Ainda mais essa, pediu para espalhar suas cinzas nas areias da praia para que ninguém o encontrasse mais.

A dona da pensão tentava amenizar aquela situação e:

- Foi tudo feito do bom e do melhor, muitas coroas, flores. Foi o funeral mais luxuoso que eu já vi.

- Tenho certeza, minha senhora, tenho certeza porque foi o funeral mais caro também. . . Passando o lenço pela testa molhada de suor arriscou perguntar: - O desgraçado sabia que ia morrer?

- Não senhor, ele morreu quando leu o conteúdo deste envelope, o médico atestou enfarte fulminante.

O agente, calado, pegou o envelope com o timbre da funerária “Repouse em Paz”.

De volta ao escritório se apresentou ao sócio e logo foi falando:

- É melhor nem mexer nisso. O pessoal dos serviços cumpriu o contrato.

- Como cumpriu o contrato?

- O velho morreu antes de pagar a primeira parcela e a conta no Banco está encerrada. Enfarte fulminante quando leu o valor da fatura.

- Não lhe deram o orçamento na hora?

- Deram, mas, como ele queria um bom serviço, assinou tudo sem ler pagou com cartão de crédito.

- Ah! Entendi.

Cabisbaixo, o dono da Funerária resmungou: - Sinceramente, esta é a primeira vez que um defunto nos dá um tombo!

- É acontece. Sempre tem uma primeira vez! – respondeu o sócio, vendedor.

sábado, 18 de junho de 2011

Espiritismo:

REGIÕES INFERNAIS

Na máquina administrativa Divina não existe um SPE, Serviço de Proteção ao Espírito, porque esse serviço faz parte do livre arbítrio de cada um e cada indivíduo é juiz de si mesmo, administrando suas limitações diante dos muitos dons descritos por Paulo em sua Epístola aos Coríntios. Segundo informações de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, o Espírito ao desencarnar, permanece na erraticidade o que significa estar caminhando sem rumo certo esperando novos destinos.

A pergunta nº. 1 do livro acima citado é a seguinte: “Que é Deus?” com tal resposta entende-se que Deus é algo extremamente sutil para o qual não existe definição possível mesmo que queiramos impingir-lhe diversas adjetivações, tais como: infinitamente bom, perfeito, imutável e outros tantos que mesmo com toda boa vontade jamais iremos descrevê-lo, pois, quanto mais termos colocarmos em algo que desconhecemos mais estaremos comparando-o aos homens. De súbito, lembramo-nos de que existe a certeza de que Deus não é alguém que permanece em seu posto infligindo punições aos seres encarnados. Certeza ainda de que Deus seria incapaz de criar um Planeta tão bonito como a Terra para que os Espíritos viessem para cá com a responsabilidade de pagar dívidas de um passado da qual não se lembram e muito menos nascer carregando um Karma, ou seja trazendo consigo uma mala de dívidas para resgatar. Kardec jamais usou o termo Karma, de origem indiana, usado entre os budistas, hinduístas e jainístas, embora alguns Espíritas costumem usá-lo ignorando ou, deixando de lado a Lei de Causa e Efeito que defende o “futuro baseado nas ações do presente”. Se Deus é infinito, infinita é a Sua obra e infinita é a caminhada dos Espíritos verdadeiros desbravadores das Leis Universais e das Obras do Criador.

Ao desencarnar, o espírito volta a seu estado “normal”, isto é, com lembranças passageiras das coisas e conceitos que levou da Terra até assumir a sua legitimidade, isto é, um ser responsável, responsabilidade esta, conquistada através das diferentes experiências adquiridas pelo acoplamento de diversas personalidades assumidas quando integrado na fileira das reencarnações.

Não é racional nem lógica a aceitação de regiões punitivas que somente conhecemos pelo falar dos médiuns e romances mediúnicos ou não. Nada até agora foi provado categoricamente da existência de regiões infernais, o que sabemos é que a situação de cada espírito está em suas próprias lembranças e seus sofrimentos ou sua paz espiritual, depende dessas lembranças. Levando-se em conta de que a Terra, supostamente, segundo algumas “teorias”, seja o lugar onde os espíritos expiam suas dívidas do passado e se põem à prova a fim de se mostrarem capazes de enfrentar as hostilidades morais e as diferenças sociais, econômicas e intelectuais mesclando toda uma população de raças, cores, preconceitos, não é lógico e nem ético admitir-se uma região umbralina circunscrita entre a crosta terrestre e as imaginárias colônias espirituais. Esta é a verdadeira máquina da força de homens sobre homens.

A Doutrina da reencarnação é: o esplendor e a aurora dos seres feitos pelo Criador que, colocados no ritmo das imutáveis Leis Divinas seguem serenamente como aleluias em busca da luz.

Enfim tudo o que sabemos são informações de médiuns, regras impostas pelas diferentes religiões e fruto de uma educação baseada no temor a Deus e em seus castigos.